Você que está visitando este sítio, possivelmente já jogou Futsal. Provavelmente, você conheceu um mínimo da modalidade enquanto estava na escola, e jogou futsal em aulas de Educação Física no ensino fundamental e médio. Talvez você tenha se engajado em equipes representativas da sua escola, e disputado competições intercolegiais – são dezenas, talvez centenas de competições, entre escolas do ensino oficial ou particular, algumas com nomes de patrocinadores, outras financiadas pela própria estrutura governamental – porém, todas com uma característica comum: centenas de equipes participam na modalidade, de diversas idades, de ambos os sexos.
Realmente, o Futsal é um fenômeno em nível escolar, seja dentro dos muros de cada escola, ou mesmo nas competições entre as escolas. O futsal é sempre uma das modalidades mais concorridas e disputadas. Até em jogos universitários, interfaculdades, o Futsal é sempre muito movimentado, há grande quantidade de atletas e equipes se envolvendo com a prática.
Entretanto, quando tentamos visualizar a modalidade na alta competição, na grande mídia, o Futsal esvanece, ainda são muito poucas as notícias e as informações sobre este nível da competição – é preciso ser ‘iniciado’ na modalidade, pagar canais fechados de TV, saber onde localizar na internet (e ás vezes nem aí se encontram as novidades…) – enfim, quem quer saber algo sobre o alto nível do Futsal tem que ir atrás da informação, pois esta não procura o público.
E neste ponto que, para quase todos os que conhecem, jogam ou jogaram Futsal, para professores envolvidos na educação esportiva, para técnicos e dirigentes, surge sempre a pergunta: o que faz com que o Futsal seja tão disputado entre a garotada em idade escolar, tão conhecido e praticado por estudantes desta faixa etária, mas seja quase que um “ilustre desconhecido” da população em geral? Ou, como comentou Júlio Lara, um colega professor de Educação Física, goleiro do seu time colegial de Itapetininga, no interior de São Paulo, nos seus tempos de estudante: “Por que o Futsal é popular e não é popular?”.
Na verdade, esta aparente contradição (popularidade X “não-popularidade”) acontece, pois há pouquíssima informação em relação ao alto nível da modalidade. A alta competição no Futsal existe e é organizada no Brasil, há alguns atletas, técnicos e equipes profissionais, algumas dezenas de jogadoras e jogadores participando de equipes européias com sucesso; no país, disputam-se campeonatos (ligas) estaduais e nacionais, as nossas seleções vão as importantes campeonato pelo mundo, entre outras manifestações do esporte de rendimento. Contudo, o grande público, mesmo aquele que acompanha diariamente o esporte, não consegue estar a par do que ocorre com este alto nível da modalidade.
Nos limites desta coluna, dificilmente conseguirei – nem pretendo – responder às perguntas sobre o alto nível e financiamento esportivo, o que deixo para as pessoas, sobretudo os dirigentes, envolvidos há anos com a grande competição, sem ainda conseguir dar uma solução para o problema do destaque nacional e internacional que o Futsal brasileiro poderia ter, se houvesse uma relação direta entre a grande quantidade de participantes nas escolas (a popularidade) e a competitividade e o brilho das equipes e seleções adultas.
No entanto, o que posso afirmar é que existem alguns motivos claros pela atração que a prática do Futsal exerce nas crianças e jovens em idade escolar (e o grande volume de pessoas que, como dito inicialmente, jogam e jogaram na escola, e a enorme quantidade de equipes envolvidas nas competições escolares, apenas comprova esta grande simpatia e adesão à modalidade). É que o ensino do Futsal para crianças e adolescentes é um grande meio e um instrumental poderoso para a consecução de diversos objetivos da educação física e da educação esportiva, tanto nas escolas como em clubes ou mesmo em organizações não-governamentais que utilizam o esporte como uma ponte para atingir crianças e jovens em situação de risco social, e ajudá-las a recuperarem a sua auto-estima, reconhecendo-se como pessoas, e também se transformando em cidadãos.
E o que também afirmo é que esta coluna pretende fornecer subsídios a todos que se interessarem em trabalhar com esta modalidade que, como já dito e repisado, é extremamente querida por estudantes de todo o país, por algumas razões que comento agora.
O primeiro motivo bem definido para a prática da modalidade entre crianças e jovens são os seus movimentos gerais. Driblar a bola, correr com ela, Chuta-lá a gol, num primeiro momento (isto é, sem pensar no refinamento destas habilidades) são movimentos relativamente fáceis de serem aprendidos e realizados. Desta facilidade advém uma grande motivação, o aprendiz rapidamente obtém sucesso nos primeiros contatos com as habilidades e o jogo, e isto com certeza o estimulam a prosseguir na prática.
Desta facilidade inicial, surgem muitos gols, pois é gostoso e não existem grandes dificuldades – para quem teve uma razoável formação psicomotora anterior – em dominar a bola, chutá-la e fazer gols. Quanto maior o número de gols, maior a alegria, e maior a adesão ao jogo.
Junte a isto o fato do Futsal ter um grande número de jogadores – cinco para cada time – isto é, possibilidade maior de todos participarem.
Assim, um início relativamente fácil em termos motores (a “sintonia grossa” da modalidade é aprendida sem grandes problemas), uma possibilidade de sucesso rápido, a alegria proveniente destes fatos, em conjunto com a felicidade de estar com muitos colegas (10 juntos, no mínimo), e tem-se uma reunião de fatores que favorecem a aprendizagem do futsal entre crianças e adolescentes.
Percebendo estas facilidades, os professores de educação física e educação esportiva acabam por empregar bastante a modalidade, no intuito de aprimorar habilidades e capacidades diversas de seus alunos, e concomitantemente trabalhar habilidades sociais de cooperação e rivalidade, liderança e negociação, bem como habilidades cognitivas, aprendizado de regras, localização espaço-temporal, classificação, desenvolvimento da linguagem, entre outros. Ou seja, o Futsal acaba também sendo o “favorito” de muitos professores e educadores, que o utilizam como uma ferramenta dos seus programas educativos onde quer que estejam – potencializando assim o “efeito jogar Futsal” na faixa etária escolar.
Desta forma, esta coluna, no interior deste valioso sítio, se propõe a ser um instrumental para os educadores que optaram pela atividade física e esportiva como conteúdo e meio para incrementar o processo educativo.
A área de educação esportiva no Brasil não pára de crescer. A demanda por programas esportivos de iniciação e aprofundamento é um fato inexorável. Seja nas escolas oficiais, para reunir os alunos, ou nas escolas privadas como forma de propaganda; em clubes ou escolas de esporte particulares; e, sobretudo no terceiro setor, entidades que se engajam visando atender dignamente crianças e jovens com pouco ou nenhum recurso para práticas organizadas e sadias de lazer – a realidade mostra que este campo de trabalho aumenta a cada ano, e que necessita de profissionais que entendam profundamente do processo de ensino – aprendizagem das diversas modalidades, nos seus diferentes níveis.
Após dezenas de anos como atleta de Futsal (de fato, fui um jogador medíocre, mas feliz!), como professor de crianças e adolescentes, como técnicos de times das mais variadas idades, sou testemunha viva (e vivida…) da força do esporte, e do Futsal em particular, no sentido de reunir as pessoas para uma convivência mais harmoniosa. O esporte pode, e deveria ser visto, como um dos fatores mais importantes de entrelaçamento e consolidação de relacionamentos sadios entre as pessoas, e de ampliação de laços comunitários de diversos níveis e graus. É assim em diversos países desenvolvidos, pode vir a ser no nosso.
Assim, nesta coluna, pretendo ampliar este diálogo com qualquer possível leitor – ouvir dúvidas, queixas, idéias, comentários – para, de fato, aumentar as possibilidades de atuação educativa, esportiva e social de todos que gostamos e temos compromisso com o esporte, e com o Futsal em especial. Iremos discutir novas formas de pensar a modalidade, e a partir do pensamento, jeitos diferentes de encará-la, treiná-la, ensiná-la e aprendê-la; enfim, de curti-la.
Se quiser contribuir nesta troca, aguardo suas idéias!